Quando alguém me pergunta se o ChatGPT “vai substituir o professor”, eu devolvo com uma metáfora que cabe muito bem aqui em Governador Valadares: martelo não substitui carpinteiro. Uma ferramenta poderosa, sim, mas só faz sentido nas mãos de quem conhece a madeira, sente o peso da responsabilidade e planeja a obra. O que muda, com a inteligência artificial generativa, é a velocidade com que esse martelo aparece no nosso balcão de trabalho — às vezes antes mesmo de termos tempo de ler o manual.
Antes de entrarmos no medo, convém lembrar do potencial. O ChatGPT já nasceu multimodal, ou seja, entende texto, imagem, planilha e até voz. Quando usamos isso na escola, ele vira uma espécie de assistente paciente, capaz de explicar uma equação de segundo grau em linguagem simples, traduzir a mesma explicação para Libras ou reformular tudo no formato de audiodescrição para quem tem deficiência visual. A UNESCO, em seu guia de 2024, chama essa capacidade de personalização de “fator de inclusão” e a coloca entre as prioridades globais para o século XXI. (Fonte: https://www.unesco.org/en/articles/guidance-generative-ai-education-and-research)
Para os professores, o primeiro ganho é tempo — aquele bem escasso entre preparar prova, lançar nota, planejar aula e preencher formulário. No Instituto Federal de Santa Catarina, um manual de 110 páginas criado com a ajuda do próprio ChatGPT detalha como automatizar a confecção de questionários, corrigir atividades objetivas e até sugerir trilhas de leitura diferenciadas para cada turma. O resultado prático? Mais horas livres para conversar com o aluno que está ficando para trás, em vez de passar a noite “carimbando” tarefa. (Fonte: https://www.ifsc.edu.br/en/web/ifsc-verifica/w/quais-os-impactos-do-chatgpt-e-da-inteligencia-artificial-na-educacao-)
Do lado do estudante, a IA pode funcionar como um tutor particular que nunca perde a paciência. Pesquisadores da Universidade de Illinois reprogramaram o ChatGPT para dar feedback imediato em redações, sempre vinculando cada comentário a critérios pedagógicos claros. Os participantes relataram maior engajamento e até ousaram errar mais — porque sabiam que o erro viraria aprendizado em tempo real. (Fonte: https://education.illinois.edu/research/bureau-of-educational-research/events-in-previous-years/panel-exemplars-of-research-on-teaching-learning-with-chatgpt)
Claro que nem tudo são flores de silício. Um estudo da Penn State mostrou que modelos de linguagem podem reproduzir trechos de obras existentes sem citar a fonte, configurando plágio ou, no mínimo, deixando a autoria nebulosa. (Fonte: https://www.psu.edu/news/research/story/beyond-memorization-text-generators-may-plagiarize-beyond-copy-and-paste) E uma investigação recente apontada pela New Yorker revela que apenas 3 % dos trabalhos escolares analisados eram inteiramente escritos por IA, mas a simples suspeita já gerou tensão em sala: alunos honestos viram seus textos questionados, e professores se viram na incômoda função de “detetives digitais”. (Fonte: https://www.newyorker.com/news/fault-lines/does-ai-really-encourage-cheating-in-schools)
É aqui que entra o conceito de autoria híbrida. Em vez de banir o ChatGPT (o que seria como proibir calculadora na aula de física), propomos ensinar o estudante a usá-lo como primeiro rascunho, nunca como versão final. Cita-se a fonte, revisa-se o texto, injeta-se experiência própria, acrescenta-se aquele exemplo sobre a cheia do Rio Doce que só quem mora em GV entende. O professor deixa de ser fiscal de cópia e volta a ser mentor de pensamento crítico.
Para facilitar essa virada, universidades e redes municipais já começam a criar políticas claras: o aluno deve indicar quando recorreu à IA; o professor, por sua vez, desenha atividades que pedem reflexão, análise de contexto local, entrevistas presenciais ou produções orais — dimensões onde o “jeitinho humano” faz diferença. Quando isso acontece, a IA deixa de ser ameaça e vira trampolim.
Tenho visto, por exemplo, a professora Márcia, aqui do bairro Vila Isa, usar o ChatGPT para gerar esboços de planos de aula sobre biodiversidade do Vale do Rio Doce. Ela pega o texto bruto, revisa, acrescenta fotos que tirou na mata do Ibituruna e leva para a sala. O resultado? Menos horas enfurnada em fichas didáticas e mais tempo guiando a turma numa saída de campo que rende relatos autorais — e nota alta no ENEM por tabela.
Se você chegou até aqui e ainda sente aquele frio na barriga, lembre-se: toda inovação parece estranha antes de virar rotina. Foi assim com o projetor de transparência, com o data-show, com a plataforma de notas online. A diferença, agora, é a velocidade. Quem quiser esperar “passar a febre” talvez descubra que o trem já deixou a estação.
E, se precisar de companhia nessa viagem, é justamente aí que entra meu trabalho. Eu, Gabriel, venho ajudando escolas, professores e equipes pedagógicas a domar esse martelo digital — da escolha de prompts que respeitam a BNCC até oficinas práticas de elaboração de avaliações seguras e criativas. Se a sua instituição quer experimentar, mas prefere pisar em terreno firme, mande uma mensagem pelo WhatsApp (31 9 7225 5110) que a gente agenda uma conversa sem compromisso.
Porque, no fim das contas, a inteligência pode ser artificial, mas o futuro da educação continua bem humano — e ele começa com uma pequena decisão de abrir a porta da sala de aula para novas ideias, antes que elas entrem pela janela.